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Pampas frágeis
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À CAÇA DOS MUFAGATINHOS

  • Foto do escritor: Marco Alves
    Marco Alves
  • 5 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

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Quando se vive para viver, cada dia trará sempre uma nova aventura. Assim, acontecia mais uma.

O dia ensolarado, quente, dar-me-ia a conhecer algo novo. (Ainda, o recordo, à distância de trinta e dois anos, quase como se fosse hoje).

Inocente e crente, saía para o terreiro da minha casa. (Tinha combinado com o Paulo que iria ter à sua casa).

Ao chegar ao portão pequeno, encontrei o meu tio Daniel que mora defronte da casa da dona Emília, avó do Paulo.

- Olá, tio! Que calor!

Com o habitual sorriso, perguntou-me o que ia fazer. Respondi-lhe que ia para o tanque com o Paulo.

Repentinamente, ele mudou a sua expressão facial. (Algo se passava).

- Precisa de alguma coisa, tio? O que foi?

- Sim, precisava de apanhar uns bichinhos, mas não consigo sozinho.

Fiquei logo intrigado e, ao mesmo tempo, entusiasmado. “Bichinhos”? A minha curiosidade atropelou as palavras…

- Apanhar… que bichinhos são? Estão onde?

- São uns mufagatinhos! São parecidos com os gatos, mas são mais peludos e fofinhos. Mas são muito rápidos e ágeis.

(Como adorava gatos, a minha vontade era partir já para esta aventura dos bichinhos felpudos).

- Então, vamos! Eu vou chamar o Paulo e já volto.

Fui a correr contar a novidade. O Paulo acompanhou-me imediatamente.

Chegados à casa do meu tio, já ele estava cá fora com um saco de serapilheira na mão, usado para as batatas.

Seguimos o meu tio. Ao chegar à entrada do portão da minha casa, ele voltou-se para a esquerda e abriu a cancela do seu quintal, que ficava encostado à minha casa. Foi aí que o meu tio disse que fazia falta mais um para os encaminhar para o local certo.

- Eu vou chamar o Filipe!

Saí a correr a chamar o meu irmão que estava debaixo da varanda a arranjar a bicicleta.

Completa a equipa de exploradores, subimos o quintal do tio Daniel. Tínhamos de passar a cerca porque, afinal, os mufagatinhos estavam num buraco, na nossa bouça e não sabia de nada.

Quando estávamos próximos, junto a um muro que tinha caído com as cheias de inverno, o meu tio parou e sussurrou:

- Agora, tu e o Paulo, seguram no saco, debaixo do muro. Eles vão passar por entre estas pedras. Têm de segurar com força e têm de olhar para o saco, quando eu avisar, porque eles são rápidos e têm de o fechar logo. Se estiverem a olhar para eles, vão mudar de rota e já não entram. O Filipe vai ao buraco xotá-los e eu encarreiro-os para aqui.

Que adrenalina se apoderava de nós.

O meu irmão já se dirigia para o buraco, mas o meu tio certificava-se, mais uma vez, que tínhamos percebido o plano… Nada de os “olhar nos olhos”. Apenas olhar para o saco e fechá-lo rapidamente.

Estando o momento prestes a chegar, as minhas pernas começaram a tremer. (Não era de medo. Era de uma emoção que eu não conseguia controlar).

Eis, então, que o meu tio grita:

- Aí vão eles, são seis!

Segurámos com toda a força e olhámos para o fundo do saco…

Foi quando senti uma frescura por mim abaixo. O meu irmão e o meu tio tinham, cada um, um cântaro que descarregaram em cima de nós, enquanto se riam, sem cessar, da caricata situação.

Aí percebemos que se tratava de uma partida… No início, não achámos piada alguma, mas como se continuaram a rir, fomos contagiados e aceitamos também a brincadeira, ainda por cima que estava calor e já não precisávamos de ir para o tanque.

Numa aura de expectativa, aventura, ação e emoção, aprendemos a partilhar o sorriso, a desemburrar com o desconhecido e a ficarmos mais despertos para a vida!


Já ouvira falar dos gambozinos, agora mufagatinhos!


Marco Alves, 5 de junho de 2020





 
 
 

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