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A CASA DA ÁRVORE, O BAÚ ESCONDIDO E O CARNEIRO

  • Foto do escritor: Marco Alves
    Marco Alves
  • 30 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

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Com o meu amigo e vizinho, Paulo, tinha um trato… A cada um, competia a programação do dia, alternadamente. Jogos, brincadeiras, trabalhos… fosse o que fosse, tínhamos de cumprir.

Estávamos na casa do Paulo e a reunião decorria na sala da dona Emília. Cabia-me a mim organizar a atividade. Enquanto ele aguardava a minha decisão, olhei para uma coluna de rádio que apenas servia, agora, de suporte a um vaso. Lembrei-me, então, de me colocar atrás dela e brincar à rádio. Ia fazendo perguntas, em forma de passatempo, e aguardava a ligação por telefone (fictício) do único ouvinte da sala. Mas faltava a música para o programa ter mais graça…

Reparei que a coluna tinha dois fios escarnados. Certamente teriam uma função. Ambos, sem qualquer temor, resolvemos inseri-los na tomada da corrente elétrica…

Que estrondo, meu Deus!

Só me lembro de ver sair uma tampa frontal, a todo e gás, e olhar para o Paulo. (Julgo que esse olhar durou apenas um segundo até ao arranque e respetiva fuga).

Bem, eu só parei em casa.

No dia seguinte, assim, “como quem não quer a coisa”, voltei à casa do Paulo e permaneci à sua espera, no laranjal. Sentado no baloiço de cordas azuis, vi-o a chegar com um ar de como quem diz “fugiste no bom tempo”!

Mas este era outro dia, era mais um dia e competia-lhe a ele, agora, decidir o que fazer.

E saiu tão rapidamente… (Isto, depois do episódio do Tom Sawer em que ele ajudou o Huckleberry Finn a construir a sua casa da árvore.)

- Vamos fazer a nossa Casa da Árvore! – disse o Paulo.

O empreendimento demorou uma semana. Bem ao lado do baloiço, nas laranjeiras, nascia um espaço muito importante para nós. Ainda que com madeiras velhas, aquela casa representava para nós a segurança, o trabalho, o esforço e a amizade.

Com tal entusiasmo gerado, a vontade de fazer algo mais, propiciou uma escavação. Sim, debaixo da nossa Casa da Árvore, abrimos um buraco com cerca de metro e meio, e aí colocámos uma caixa e alguns brinquedos e objetos. De seguida, tapámos e combinámos, anos mais tarde, recolher este nosso “tesouro”.

Estávamos orgulhosos! Sentados a olhar para o nosso trabalho, eis que a dona Emília chama:

- Ó Paulo! Ó Paulo! Leva as ovelhas ao campo!

Logo nos levantámos. E assim foi… ao abrir a porta, ainda me lembrei de outro episódio funesto com uma cria da “Farzita”, a gata da casa. Mas, adiante…

A fome havia ensinado o percurso às ovelhas. Bastou mesmo abrir a porta.

Chegados ao campo, ficámos ali a observar, mas, dez minutos depois, já precisávamos de algo mais para entretenimento.

Estávamos a pensar em algo, quando o carneiro começou a subir para a bouça. Era um carneiro com uma “personalidade” bem difícil!

- Temos de lá ir! – disse o Paulo.

E fomos. E tentamos…

Mas o carneiro era um “casmurro”! Não obedecia e ignorava o nosso tom de voz. Foi nessora que o Paulo teve a infeliz ideia de saltar para cima dele.

Tendo já, anteriormente, tentado explicar um pouco sobre este carneiro, só posso dizer que, mais uma vez, me vi a correr… E agora, sim. Vinha mesmo alguém atrás de nós e vinha furioso.

Foi a dona Emília que, ao se aperceber do pânico, o acalmou e o consegui meter dentro da corte.

Só percebi o meu tremelicar das pernas quando o carneiro entrou adentro.

Assim acabava mais um dia… E que dia!

No regresso a casa, ali bem perto, pensava que, realmente, a vida tinha momentos de entusiasmo, orgulho, trabalho, recordações e de medo.

𝘊𝘰𝘯𝘵𝘶𝘥𝘰, 𝘦𝘭𝘢 𝘴𝘦𝘨𝘶𝘪𝘢 𝘦𝘮 𝘧𝘳𝘦𝘯𝘵𝘦 𝘦 𝘵𝘳𝘢𝘻𝘪𝘢 𝘧𝘦𝘭𝘪𝘤𝘪𝘥𝘢𝘥𝘦 𝘢 𝘤𝘢𝘥𝘢 𝘥𝘪𝘢 𝘲𝘶𝘦 𝘱𝘢𝘴𝘴𝘢𝘷𝘢…

Marco Alves, 30 de maio de 2020

 
 
 

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